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[Artigo] A experiência da revelação de Deus na nossa vida – Neuza Silveira

A ação de Deus vivida na experiência humana torna-se testemunha para o mundo. Quem se abre a essa experiência, abre-se à revelação, faz-se testemunha, por meio de atitudes de comunhão, de gratuidade, de criatividade e misericórdia, frutos do amor trinitário.

A experiência cristã de Deus é a experiência da fé em Jesus Cristo. Ela se situa dentro do espaço da cristologia e se encontra circunscrita no âmbito da presença histórica do Revelador e da sua revelação (Jo,1,18). Daí pode-se dizer que a experiência cristã de Deus se desenvolve no terreno da linguagem da encarnação (fenômeno pelo qual o Filho de Deus se fez homem na pessoa de Jesus Cristo), na totalidade dos seus momentos, cujo sentido pleno se manifesta na ressurreição.

Um dos grandes problemas que se apresenta na vivência espiritual do cristão de hoje é estabelecer uma relação necessária entre a experiência humana de Deus, no sentido radical da vida, e a experiência cristã de Deus, como sua presença na linguagem da fé em Jesus Cristo.

O que é revelação?

A revelação de Deus, no Primeiro Testamento, segundo os autores bíblicos, tem suas reflexões analisadas segundo as épocas da história. Assim, podemos falar da revelação de Deus, na criação, como o Deus criador dos elementos do mundo e o santuário como o lugar no qual Deus se revela. Já a lei constitui a revelação da vontade divina (Dt 31,9-11), que se dá através dos sacerdotes e profetas. Os sacerdotes são os intérpretes oficiais da lei (Dt 33,10) dada a Moisés (Nm 12,8). Aos profetas, Deus fala por enigmas, mas eles são objeto de uma vocação pessoal: eles denunciam as infidelidades à lei. Deus se revela anunciando o futuro (Is 41,22-23; Dn 2,28).

No Segundo Testamento, o tema da revelação está essencialmente centrado na pessoa de Jesus Cristo e no plano de salvação eterna que ele veio revelar. Nos Evangelhos sinóticos: Mateus, Marcos e Lucas, o anúncio do Reino por João Batista encontra sua plena finalidade na própria pessoa de Jesus. Em Mt 11,25-27 Jesus é a revelação do Pai e dos mistérios de seu Reino. Em Mc 3,12 fala de um segredo messiânico cujo conteúdo não pode ser revelado antes da hora, mas quando o Filho do homem aparecer (Lc 17,30), a verdade aparecerá (Mc 4,22). Desde agora, o mistério é revelado aos pequeninos e humildes (Mt 11,25; 16,17). No Evangelho de João encontramos várias maneiras de expressar a revelação por meio dos verbos: conhecer, entender, ver, crer ou através de substantivos como: palavra, verdade, vida, luz, glória. Jesus veio revelar o Pai (Jo 1,18) e, quanto mais ele se mostra servo, mais revela o Senhor (Jo13, 3).

Nas Epístolas Paulinas, conforme Rm 16,25; Ef 3,5; Cl 1,26, o mistério de Cristo escondido durante séculos é agora levado ao conhecimento das nações. Também o mistério da glória dos filhos de Deus deve ser revelado um dia.

No Apocalipse (o termo apokalypsis = revelação), Deus quer mostrar a seus servos as coisas que devem acontecer em breve. O mistério de Deus será consumado quando Cristo reinar sobre o reino deste mundo pelos séculos dos séculos (Ap 11,15).

A Igreja, povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do Senhor, continuadora das ações do Cristo Ressuscitado, aspira a essa manifestação.

Deus revela-se como aquele que vem. Ele é o Senhor da História. Ele a faz concorrer para seus fins: a destruição do mal e a consolação dos seus filhos.

Assim experimentar o Deus trinitário é ser comunhão, é criar comunhão e participar da vida em comunidade. Aquele que experimenta a fé cristã, abrindo-se à dinâmica da vida relacional com a Trindade, vive um processo de encontro consigo, com os outros, com o mundo e com Deus. Um processo mistagógico.

O que é Mistagogia?

Na prática da vida cristã, a mistagogia nos ajuda a percorrer o caminho de mistério da fé cristã. Ela é um caminho de integração dos batizados na fé e na comunidade cristã, que se dá de forma progressiva. É a abertura para o diálogo do cristão com toda a história da salvação, com o encontro com Jesus Cristo e com a experiência das primeiras comunidades. É diálogo constante, sensível e fecundo de novas respostas e possibilidades. Jesus é o primeiro mistagogo e a nossa experiência cristã se encarna em uma determinada forma de viver que reproduz a forma de viver que Jesus anuncia. Jesus Cristo, sacramento de Deus, prolonga-se no sacramento do irmão como lugar privilegiado para o encontro com ele e nele com Deus.

Neuza Silveira de Souza.

Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.

 

 



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