Santuário Arquidiocesano

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[Artigo] A Igreja viva caminha na graça do Tempo Litúrgico – Neuza Silveira

A Igreja toda vive esse tempo de início do Ano Litúrgico celebrando a grande festa do nascimento do Deus menino. O ano novo já se inicia com um convite para que todos se preparem para fazer uma bela experiência de renovação de vida, de não perder de vista a esperança de que, mantendo-se em conformidade com a tradição da Igreja, somos transportados para a realidade celebrada na solenidade do Natal, a vinda do Filho de Deus na carne, que se concretiza no nascimento de Jesus.

O Ano Litúrgico se inicia com o Tempo do Advento que vai até à véspera do Natal. O tempo do Natal vai das primeiras vésperas do Natal do Senhor ao domingo do Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo (domingo depois do dia 6 de janeiro ou na segunda-feira seguinte, caso o domingo seja ocupado com a festa da Epifania). Esse tempo é conhecido como o Ciclo do Natal ou Tempo do Natal.

No dia 1º de janeiro, oitavo dia do Natal, celebra-se a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, na qual se comemora também a imposição do Santíssimo nome de Jesus. A Epifania do Senhor é celebrada no dia 6 de janeiro. No Brasil esse dia é celebrada no domingo entre 2 e 8 de janeiro. Na Epifania celebramos a manifestação de Deus em nossa carne humana, os pastores (representando os pobres) e os magos do Oriente (representando as nações). Neste ano celebramos a Epifania do Senhor no dia  7 de janeiro. No dia 8, celebra-se a festa do Batismo do Senhor.

Assim se dá a nossa vivência religiosa. O cristianismo é uma religião histórica, e a Igreja, por essência, está enraizada na história humana. É comunidade peregrina pela história rumo ao Reino de Deus. A identidade dessa comunidade é a liberdade e a dignidade dos filhos de Deus, cujos corações, o Espírito de Deus habita como seu templo. Sua lei é o mandamento novo: amar como o próprio Cristo nos amou (cf. Jo,34). Seu destino é o Reino de Deus, que já se faz presente neste mundo, e nele deve-se trabalhar para que a comunidade cresça e caminhe rumo à sua perfeição.

A encarnação do Filho de Deus traz para o mundo a história de amor que Deus quer realizar com a humanidade. Na encarnação de seu Filho a história da salvação encontra seu momento decisivo. Se os tempos chegaram à plenitude pela encarnação do Filho de Deus, a Igreja, pela Páscoa de Cristo e o dom de Pentecostes, constitui o fruto dessa encarnação e o prolongamento de seus dons através dos séculos.

O ano litúrgico, constituído na história itinerária da Igreja, é graça e salvação. Ele é a celebração-atuação do mistério de Cristo no tempo. O ano litúrgico tem como missão fazer presente o mistério de Cristo no tempo humano para reproduzi-los na vida de cada pessoa. Nesse sentido, comemoram-se os mistérios da redenção. Através do ressoar da palavra divina, no Natal e na Epifania se torna presente para nós a Encarnação, na Páscoa a Paixão e glorificação do Senhor.

A Igreja, constituída como corpo poderoso e deixando-se guiar pelo espírito humano, enquanto peregrina em sua missão, cumpre seu dever de celebrar, em dias determinados, através do ano, a obra salvífica do Senhor. No círculo do ano, apresenta todo o mistério de Cristo, desde a encanação e o nascimento até a ascensão, pentecostes e a expectativa da esperança ditosa e vinda do Senhor. Todas estas festas e celebrações variam ao longo do ano, dentro de um ordenamento chamado ano litúrgico.

Mas o que é o ano litúrgico?

As festas e os tempos litúrgicos não são aniversários dos fatos da vida histórica de Jesus, mas presença in mystério, isto é, na ação ritual e em todos os sinais litúrgicos da celebração. Nesta presença in mystério, as ações do verbo encarnado, são acontecimentos salvíficos (Kairoi) atuais e eficazes para os que os celebram, pois na fragilidade do tempo que voa, o nosso tempo na celebração litúrgica assume o valor de “Kairos” de espaço de salvação. Depois da gloriosa ascensão de Cristo ao céu, a obra da salvação continua através da celebração da liturgia. E a cada ano somos chamados a renovar nossa caminhada de Igreja, deixando o Cristo renascer em nossos corações e na vida da Igreja.

O Ano Litúrgico é também o resultado da busca do povo por uma resposta ao mistério de Jesus Cristo por meio da conversão e da fé. No fundamento do Ano Litúrgico está o acontecimento da morte e ressurreição de Jesus. Núcleo da pregação apostólica. É a Páscoa de Israel alcançando seu cumprimento e culminância na paixão e ressurreição de Jesus com a doação do Espírito Santo.

Neuza Silveira de Souza. 

Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.



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