A vida do ser humano é um dom de Deus. “Somos obra de Deus, criados em Cristo Jesus” (Ef. 2,10). Assim, existimos, vivemos, pensamos, amamos, nos alegramos, sofremos, nos relacionamos, conquistamos nossa liberdade diante do mundo e de nós mesmos. Se a vida é dom de Deus, somos criaturas de Deus, e por ele somos chamados a viver na liberdade. Mas também somos chamado para a missão de serviço ao povo, a conviver, a dialogar, e servir a Deus por meio dos relacionamentos: “eu e Deus”, “eu comigo mesmo”, “eu e a natureza” e “eu e os outros”. Nesse sentido somos um “chamado”.
Chamados a que?
Somos chamados a uma vocação: vocação à existência, vocação humana, vocação cristã e vocação específica. Somos uma vocação.
A palavra “vocação” refere-se sempre ao ato de chamar, de escolha e de disposição para algo ou para alguma missão. Ela se origina do verbo no latim “vocare” (chama?). Assim vocação significa chamado. É, pois, um chamado de Deus. Se há alguém que chama, deve haver outro que escuta, que responde. Podemos dizer que vocação é o encontro de duas liberdades: a do chamado de Deus e a do homem que responde. Criados à imagem e semelhança de Deus, somos chamados para a vida que é a grande vocação.
Viver a vocação é sentir sempre estimulado à prática de atividades que estão associadas aos desejos de seguir determinado caminho. Nessa escolha nos encontramos em várias dimensões vocacionais:
A vocação profissional – Formada por um conjunto de aptidões naturais, como também interesses específicos e individuais que nos direcionam na escolha de uma profissão.
A dimensão vocacional religiosa nos leva à prática religiosa. Ter vocação religiosa é estar disponível para se separar das coisas que são do mundo e que não são do agrado de Deus.
Por meio da vocação cristã, todos são chamados à santidade. Pelo batismo somos chamados pessoalmente por Cristo para ser, como cristãos, testemunhas e seguidores do Mestre Jesus. Chamados à fé pelo batismo, todos fazem parte do “reino, de sacerdotes, profetas e reis” (1Pe 2,9). Toda pessoa batizada torna-se um seguidor de Cristo, participante de uma comunidade de fé.
Quando a fé não se faz ação, o mundo se torna mais pobre, mais injusto.
Pelo Batismo, todos são chamados a uma vida cristã como filhos e filhas de Deus. Somos chamados a estar presentes, como cristãos, na sociedade, na vida profissional, cultural, social. Segundo a compreensão cristã da realidade, o destino da criação inteira passa pelo mistério de Cristo, que nela está presente deste a origem: “Tudo foi criado por ele e para ele” (Cl 1,16). Podemos refletir esta afirmação a partir do prólogo do Evangelho de João (1,1-18) que mostra a atividade criadora de Cristo como Palavra divina (Logos). Mas, o mesmo prólogo surpreende ao afirmar que esta Palavra “se fez carne” (Jo 1,14). Uma pessoa da Santíssima Trindade inseriu-se no universo criado, partilhando a própria sorte com ele na cruz.
Assim, ao sermos batizados somos inseridos na vida da comunidade cristã. Dela nasce o anúncio da boa notícia incitando-nos a se colocar no seguimento de Cristo. Ele nos chama a sermos discípulos, anunciadores do reino de Deus, exercendo funções temporais. Vivemos na secularidade e exercemos nossa missão insubstituível nos ofícios e trabalhos deste mundo. Segundo o Vaticano II, vivendo a nossa vocação e missão estamos a contribuir para a santificação do mundo como fermento na massa. (LG 31).
A importância da família na caminhada de fé com seus filhos
A família é aquela que dá testemunho da vida cristã, pois todo vida brota dela, cresce e desenvolve. É ser um abrigo como a um ninho que abriga seus filhotes até sua independência. A base para a convivência familiar nesse tempo é o amor. Contar com o amor e a misericórdia de Deus tem-se o sustentáculo para o caminhar na vida, quando, então, os jovens vão descobrindo sua vocação. Eles vão descobrindo aos poucos sua vocação cristã e, com ajuda da família, das amizades sinceras, do convívio na comunidade, sua vocação vai aflorando, vai se firmando.
Já um pouco mais maduros na caminhada cristã, homem e mulher podem optar por um envolvimento amoroso, chegando ao casamento ou escolher outros caminhos: a vida de padre, de irmã ou irmãos religiosos, de vida consagrada e ou leigo solteiro.
Em relação à vivencia na vida matrimonial, o Papa Francisco nos diz em sua exortação apostólica Amoris Laetietia: “O matrimonio é uma vocação, sendo uma resposta ao chamado específico para viver o amor conjugal como sinal do amor imperfeito do amor entre Cristo e a Igreja” ( AL n. 72).
Trata-se de um sacramento que expressa a vocação ao amor do homem e da mulher, em que, mediante a caridade conjugal “recebem o dom do Espírito de Cristo e vivem a sua vocação à santidade” (n. 69).
Aos pais é dada a missão de educar seus filhos, se transformando em verdadeiros ministros. E, quando formam seus filhos, edificam a Igreja e, fazendo-o, aceitam uma vocação proposta por Deus” (n.85). Sua missão é plantar boas sementes no coração de seus filhos. O afeto dos pais pelos seus filhos é importante.
Todas as escolhas são feitas na liberdade e no amor e, por isso, podemos colocar a serviço do outro, as nossas aptidões e talentos que Deus nos concedeu. Ele nos envia para viver, a cada dia, um novo impulso com ousadia para a missão a nós confiada.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte