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[Artigo] Cristão é quem crê que Jesus é Cristo – Neuza Silveira

O que caracteriza o cristão é que ele acredita em Jesus de Nazaré como sendo o Cristo (em hebraico, Messias, em português, Ungido). A isso, ele deve seu nome de cristão. Mas essa ligação entre o “ser cristão” e Cristo não é tão evidente quanto se poderia esperar. Em um programa de tevê com entrevistas na rua foi feita a pergunta: “O que é, para você, ser cristão?” Apenas uma das pessoas entrevistadas mencionou Jesus Cristo em sua resposta. Todas as outras falaram em coisas gerais: ter fé, fazer o bem, ajudar as pessoas… Houve até quem respondesse ao que não foi perguntado, mas que estava presente em sua cabeça: “Todas as religiões são boas”.

Ser cristão implica fundamentalmente a fé naquele que é chamado o Cristo, ou Messias: Jesus de Nazaré. Sem a fé no Cristo, ninguém pode ser chamado cristão. Porém, é preciso considerar o que significa Cristo ou Messias na mentalidade do povo de Jesus, o que o povo entendia por “esperar o Messias”. E depois deve-se ver em que sentido esse conceito foi aplicado a Jesus de Nazaré por aqueles que são chamados de “cristãos” e o que isso significa para a compreensão do ser humano.

O que significa crer em Jesus de Nazaré como sendo o Messias ou Cristo torna-se compreensível quando se conhece a tradição transmitida de geração em geração no povo do qual ele nasceu e que se encontra “na Lei e nos Profetas”, ou seja, nas Escrituras. Nelas vêem o ser humano como coroação da obra criadora de Deus, mas também como ameaçado e ferido pelo pecado, pelo orgulho que se opõe ao plano de Deus. Contudo, Deus conduz a humanidade à reconciliação e à paz, especialmente por seus “eleitos”: Noé, Abraão, Jacó-Israel e o povo de Israel, conduzido por Moisés.

Nesse desígnio de Deus, nesta “Aliança”, o servo de Deus e Ungido por excelência era Davi. Pela boca do profeta Natã, Deus lhe prometeu uma realeza que duraria para sempre. Por isso, quando a casa de Davi desapareceu no tempo do exílio babilônico, surgiu a expectativa de um novo Ungido.

Os cristãos são, então, os que crêem que Jesus de Nazaré foi aquele que, na terminologia do povo judeu, era chamado o Ungido (Messias, Cristo). Mas não o foi no modo como o povo o imaginava. Jesus, depois de participar do movimento de renovação lançado por João Batista, pôs-se a anunciar a proximidade do Reino de Deus, entendido como a realização da vontade amorosa do Pai, que ele mesmo experimentou de maneira única. À luz dessa sua experiência, ele reinterpretava a Lei e os Profetas.

Quando falamos de Reino, lembramos de quando ele foi inaugurado na Terra. Jesus veio a este mundo e o estabeleceu entre os homens. Sabemos que este Reino oferece muitas alegrias, mas também há muitas exigências para aqueles que querem entrar e permanecer nele.

Ele ensinava que o Reino vai se constituindo com o caminhar da história de cada um: Ele diz: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres. …enviou-me para restituir a liberdade aos oprimidos” (Lc 4,8); “Os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. E bem-aventurado aquele que não ficar escandalizado por causa de mim!” (Mt 11, 5-6).

Ensinava que o Messias era o Filho do Homem que veio não para ser servido, mas para servir e dar sua vida. Fiel até o fim à sua palavra e àqueles a quem a transmitiu, não recuou diante das ameaças que os poderosos lhe destinavam. Morreu na Cruz como um criminoso. Mas, ressuscitando-o dos mortos, Deus mostrou que Jesus havia agido segundo sua vontade e é, sempre e de modo único, o seu “Filho”.

Seus ensinamentos nos levam a perceber o que Jesus estava querendo nos dizer: Sem a humildade, a simplicidade, sem aquela confiança no amor de Deus, assim como uma criança que confia no amor do pai, as pessoas não estão aptas para entrar no Reino dos Céus.

Jesus não foi o Messias do modo como o povo o esperava; ele foi o Messias inesperado.

Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte



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