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[Artigo] Seguindo as pegadas de Jesus – Neuza Silveira

Caminhando pelo Evangelho de Jesus Cristo, segundo a apresentação das comunidades, podemos ir, aos poucos, nos identificando com Jesus e assim assumindo nossos compromissos e trazendo para mais próximo de nós a grande experiência de participar do Mistério Pascal que dá fundamento à nossa fé cristã. Ele é o ponto de partida de nossa fé em Jesus Cristo. Se Cristo não tivesse ressuscitado, não haveria fé cristã.

O mistério da Páscoa, centro da nossa fé, é a passagem da morte para a vida. A vida cristã é passagem do egoísmo para a solidariedade, da indiferença para a participação, do ódio para o perdão, da divisão para a comunhão. O que aconteceu com Jesus deve acontecer conosco também. A Páscoa de Jesus é o ponto de partida da Páscoa de todos os seus seguidores. Conhecendo Jesus através da caminhada das primeiras comunidades descritas nos evangelhos, ajudam-nos a se colocar no seguimento de Jesus.

O Evangelho de Marcos

O Evangelho de Jesus segundo o Evangelista Marcos nos ajuda a nos colocar no caminho. Um caminho que se inicia com o caminhar de Jesus no sentido de doação de sua vida.

Marcos é o evangelho do Movimento e do Caminho. Jesus e seu movimento popular-religioso estão sempre se movimentando, sempre em missão, sempre a caminho. É o Profeta que prepara o caminho (Mc 1,2) e clama para o povo preparar o caminho (Mc 1,3). Jesus está quase sempre caminhando (Mc 1,16). Vai com os discípulos “a caminho do mar” (Mc 3,7) e também descreve o que acontece pelo caminho (Mc 8,3.27; 9,33-34; 10,32.52). Da mesma forma, quem aceita Jesus deve segui-lo e aceitar seu projeto, que é de libertação integral. As primeiras pessoas cristãs pertenciam ao Caminho (At 9,2; 18,25-26; 19,9-23).

Em Marcos, o Projeto de Jesus e seu Movimento trata-se de uma “boa notícia para todos, mas a partir dos empobrecidos”. Marcos faz opção pelos pobres. Por isso, nesse Evangelho são frequentes os contrastes e conflitos. Ou se está do lado de Jesus ou contra Ele.

Marcos concebeu seu Evangelho a partir da paixão de Jesus. Isto se comprova pelas repetidas condenações à morte sentenciadas pela hierarquia judaica. Percebemos que era um caminho difícil, árduo, acompanhado pela sombra da morte.

Marcos nos ajuda a compreender que Jesus é filho de Deus do início ao fim do seu Evangelho (Mc 1,1.11; 15,39), mas sempre visto como o servo que ama gratuitamente a todos a partir dos injustiçados. No caminho, Jesus percebe que irá passar por caminhos tortuosos que o levará ao martírio. Livremente, ele enfrenta as injustiças e se doa integralmente.

Evangelho de Mateus

O Evangelho de Mateus brota de comunidades diferentes, mas inseridas em um contexto de grandes conflitos também. Elas se encontravam fora de Jerusalém por causa da Guerra Judaica e a destruição do Templo. Essa comunidade era constituída de comunidades já existentes na Antioquia da Síria, dos judeus que sobreviveram da guerra Judaica e dos gentios convertidos. Era considerada uma comunidade viva. Para esta comunidade o evangelista Mateus apresenta Jesus como o Emanuel (Mt 1,23). É o Messias anunciado pelos profetas. Sua vida e prática era o cumprimento do plano determinado por Deus. Ele é o verdadeiro intérprete da Lei (Mt 5,1; 23,8) e por isso nos orienta que a Lei (ensinamento) deve estar a serviço da vida. Ele está sempre a nos convidar a viver a justiça e a misericórdia. Ele se faz presente no meio de todos nós, todos os dias, até a consumação dos séculos (28,20b).

No Evangelho de Jesus segundo Mateus encontramos vários dos ensinamentos de Jesus que eram trabalhados naquelas comunidades que podemos deles tirar proveito para nossa realidade atual. Diante de grandes conflitos que viviam em relação à fé, as comunidades eram convidadas a levar em consideração a importância do perdão, da sensibilidade e da prática concreta da solidariedade. Sabemos que a correção fraterna e o perdão são fundamentais para consolidar a vida em comunidade.

A Campanha da Fraternidade deste ano nos chamam para o exercício da fraternidade social. Olhar para os que passam fome, encontra-se excluídos, nas periferias, fora do campo das realidades de ações fraternas e solidárias. Somos chamados a ir até eles, ver a realidade em que se encontram e tomarmos decisões concretas de um agir ético e amoroso, fortalecendo as relações, assim como Jesus fazia no desejo de instaurar o Reino de Deus.

A exemplo de Jesus, nós, continuadores de sua obra, somos convocados a também trabalhar nesse reino já instaurado por ele tornando-o visível pela prática da justiça e da misericórdia.

Depois falaremos de Jesus nos Evangelhos segundo as comunidades de Lucas, João e das experiências das comunidades Paulinas.

Neuza Silveira de Souza

Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.

 



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