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[Entrevista] “O Sínodo da Sinodalidade é sobre a comunhão que deve existir entre os seguidores de Jesus”

Nos próximos dois anos, a Igreja irá percorrer o caminho rumo à 16ª Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. Convocado pelo Papa Francisco, o Sínodo sobre a Sinodalidade convida a Igreja inteira a contribuir para revigorar sempre a sua ação missionária, com a renovação de suas estruturas, ações e funcionamentos. Pela primeira vez, um Sínodo é chamado a envolver todo o Povo de Deus, a partir de uma ampla escuta e a participação de todos.

O padre Márcio Antônio de Paiva, doutor em Filosofia e sacerdote formador do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus, explica, nesta entrevista, que o Sínodo é oportunidade para ouvir homens e mulheres do mundo inteiro, neste momento importante da história da Igreja, a partir da comunhão do todo o povo de Deus.

1)     O que representa o Sínodo sobre Sinodalidade para a Igreja?

O Sínodo é sempre um caminho conjunto, do grego syn + odos, que significa ‘com um caminho’. O Sínodo da Sinodalidade diz respeito essencialmente à comunhão que deve existir entre os seguidores de Jesus. Assim como disse Jesus no Evangelho de João: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros, como eu vos amei”.

Ao longo dos séculos, a história da sinodalidade acontece na Igreja sobre formas muito variadas. A partir do Concílio Vaticano II – nossa última referência conciliar, a Igreja é definida como Sacramento de Salvação e é caracterizada pela comunhão hierárquica e a comunhão com todo o Povo de Deus. Logo, o Espírito Santo na Igreja sopra onde e como ele quer.

2)     Por que um Sínodo sobre a Igreja sinodal?

Trata-se justamente de um momento bonito e inspirado no Papa Francisco, sobretudo diante de um mundo esfacelado por meio de múltiplas linguagens. Quando o Papa nos convida a este Sínodo sobre a Igreja sinodal é justamente para nos fazer sentar à mesma mesa, nos olhar nos olhos, nos reconhecer na diferença como irmãos. Isso é a Igreja sinodal.

Também é um convite para refletir sobre todos os assuntos na Igreja, sobretudo os mais problemáticos, de forma serena, sem perder a comunhão. Mas isto não significa que a Igreja é uma democracia. Não é. É muito distinto de uma democracia. Em uma democracia, o que está em jogo é a disputa de poder. Na Igreja não deve ser assim. A Igreja sinodal é uma Igreja de comunhão, de participação. É uma Igreja cuja alma é a fraternidade.

3)     Pela primeira vez um Sínodo é chamado a envolver todo o Povo de Deus, segundo um mecanismo de escuta. Como os fiéis são chamados a participar?

Seguramente é uma oportunidade maravilhosa para ouvir homens e mulheres do mundo inteiro. Todos terão direito a voz e vez neste Sínodo. Esta escuta vai depender da organização e a estruturação de cada Igreja particular ou diocese. Cada diocese constituirá uma equipe sinodal para elaborar um questionário, fazer reuniões em várias instâncias e setores, pois a atitude de escuta em um Sínodo é fundamental.

4)     Quais os desafios para termos uma Igreja mais participativa?

São múltiplos os desafios. Mesmo porque o Papa Francisco enfrenta resistências, como desânimo por parte de muitos. Enfrenta também desafios muito grandes diante de alguns escândalos no interior do corpo místico de Cristo.

Ao falar de uma Igreja mais participativa, nós temos um desafio. Primeiro, a tentação de confundir sinodalidade com uma Igreja democrática. A Igreja é uma comunhão hierárquica, como nos ensina o Concílio Vaticano II, e comunhão de todo o Povo de Deus. Não se trata de uma decisão em torno de uma maioria, mas se trata de comunhão, de escutar e entender o horizonte e a perspectiva do outro para, justamente, a partir daí, enfrentar os desafios que o mundo nos propõe, enfrentá-los de forma mais contundente como irmãos e irmãs.

Segundo, é que vivemos em um mundo de múltiplas linguagens, dentro da própria Igreja Católica há linguagens diferentes, desde uma ‘ultradireita’ conservadora que defende uma doutrina, uma lei, uma moral, até uma ‘ultraesquerda’ e pequenos setores que defendem uma redemocratização da Igreja. Portanto, o convite para refletir sobre uma Igreja Sinodal é um convite para voltar à essência da Igreja.

Por último, há outros desafios –  da ciência, da economia de mercado, dos problemas climáticos – e a Igreja, como autêntica comunidade de fé e corpo místico de Cristo, tem que participar desses processos sendo “sal da terra e luz do mundo.”

 



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