Santuário Arquidiocesano

Ermida da Padroeira de Minas - Basílica da Piedade

08h

15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h

Basílica Estadual das Romarias

Domingo
09h30
11h
16h30

Artigo de dom walmor

Você está em:

A arte de aprender a esperança

Aprender a cultivar esperança é nobre propósito do Ano Jubilar 2025, promovido pela Igreja Católica no mundo inteiro. Meta existencial muito importante quando se considera que é essencial reconhecer o sentido da vida, para vivê-la como dádiva de Deus. Uma dádiva a ser desdobrada em dom para o semelhante, alicerce de uma cidadania qualificada com força para oferecer contribuições civilizatórias e, assim, ajudar a mudar o mundo, superando a violência e a exclusão social. Investir no aprendizado da esperança é meta que não pode ser simplesmente emoldurada pela procura por êxitos, pois corre-se o risco de se encontrar frustrações. É preciso cultivar a necessária resiliência espiritual, para vencer qualquer sentimento de desencanto e se fortalecer na batalha pelo bem. Aprender a cultivar a esperança é, pois, dinâmica de humanização, indispensável para não se correr o risco de reduzir as próprias motivações aos números que traduzem lucros. A arte de esperar tem um alcance muito além da busca por posses ou bens que, sozinhos, não garantem sentido ou razão ao viver.  Vive-se por meio de pequenas e grandes esperanças, que alimentam cada peregrino em sua caminhada.

Importa alimentar-se da grande esperança, que supera as demais e as alimenta, aquela que não deixa o ser humano cair. Trata-se de força que conduz a uma nobreza que dignifica o viver. A grande esperança é Deus, o único que pode dar ao ser humano a vida plena, aquela que não passa. Sem a esperança maior, todas as outras se reduzem à fugacidade do tempo, que passa velozmente, revelando que cargos, títulos ou conquistas têm importância relativa. Requer-se a competência humana e espiritual para compreender que a vida é dom de Deus, precedendo tudo que se pode conquistar em termos de bens, patrimônios ou oportunidades. E o Deus que dá a vida como dom não é um Deus qualquer, tem rosto humano. A esperança maior, que vem do amor de Deus, tem em Cristo Jesus a sua fonte mais visível. Onde Jesus é amado alimenta-se a esperança. Trata-se do lugar onde se aprende a cultivar a esperança que não decepciona, qualificando o viver humano para libertá-lo da mesquinhez e dos estreitamentos que aprisionam a generosidade solidária.

No caminho para aprender a cultivar esperança, vale acolher as preciosas indicações do Papa Bento XVI, na sua Carta Encíclica sobre a esperança que salva. Bento XVI aponta a oração como privilegiado exercício para fortalecer a esperança, experiência incontestável para reconhecer que Deus escuta os clamores dos orantes - aqueles que jamais estão sozinhos. A Carta Encíclica lembra o testemunho do cardeal vietnamita Van Thuan, nos seus 13 anos de prisão, dos quais nove vividos em uma minúscula solitária. O Cardeal alimentou uma fonte crescente de esperança pela oração. Quando libertado, se tornou testemunha da esperança. A oração alarga o coração para viver de modo coerente com a grandiosidade relativa à criação do ser humano. O diálogo com Deus, pela oração, acende a luz da esperança, sem ilusões ou fantasias, elevando a alma orante a uma condição que, humanamente, é impossível alcançar. Assim, a oração faz brotar a esperança que não ilude, purificando o ser humano de fantasias e egoísmos mesquinhos, a partir do diálogo com Deus.

A esperança fidedigna que nasce da oração, pessoal e comunitária, alimenta corações e confere habilidades essenciais aos peregrinos de esperança. As preces ajudam, inclusive, a fortalecer a esperança nas situações marcadas por sofrimento, ajudando a enfrentar a desilusão do cansaço ou os arroubos dos fanatismos. A esperança conquistada a partir do diálogo com Deus oferece equilíbrio à travessia de diferentes momentos históricos, possibilita reconfigurar a política, qualificando o exercício da cidadania, a partir do poder indestrutível do amor. Mesmo quando as circunstâncias são desfavoráveis, ainda que sejam enfrentados fracassos ou contradições comuns à vida, a esperança maior não deixa o ser humano desistir, possibilitando-o encontrar sentido no sofrimento e, assim, vencê-lo, tornando-o força redentora.

O sofrimento natural da finitude humana converte-se em força de redenção quando vivido no horizonte da esperança maior, alicerçando o compromisso de se buscar superar os sofrimentos dos inocentes e vulneráveis. A esperança fortalece aqueles que tem fé tornando-os instrumento na construção de novos caminhos, que levam ao bem, a partir da sabedoria que vem de uma fonte inigualável: Deus. Assim, o peregrino de esperança conquista uma força que é poeticamente apresentada por Thiago de Mello, na sua poesia Memória da Esperança: “Na fogueira do que faço por amor me queimo inteiro. Mas simultâneo renasço para ser barro do sonho e artesão do que serei. Do tempo que me devora me nasce a fome de ser. Minha força vem da frágil flor ferida que se entreabre resgatada pelo orvalho da vida que já vivi”. Força interior daqueles que buscam aprender a esperança.

 

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte