Santuário Arquidiocesano

Ermida da Padroeira de Minas - Basílica da Piedade

08h

15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h

Basílica Estadual das Romarias

Domingo
09h30
11h
16h30

Artigo de dom walmor

Você está em:

Advento da fraternidade

Cantada em verso e em prosa, a trilogia igualdade, fraternidade e liberdade precisa inspirar e desafiar, cotidianamente, os cidadãos. Desafio e inspiração que equilibram e fecundam a identidade e a missão das instituições responsáveis por configurar as feições da sociedade.  Desconsiderar os princípios da igualdade, fraternidade e liberdade é enfraquecer a democracia. Significa também distanciar as relações sociais, políticas e econômicas dos parâmetros de inegociável racionalidade e sustentabilidade. As deteriorações humanas, comprovadas pelos cenários de desigualdade social e violência, são consequências desse distanciamento. Por isso mesmo, os princípios essenciais à democracia permanecem consolidados por legislações em cartas magnas, incorporados em indispensáveis e arrojadas políticas públicas, fecundados por valores culturais. Trata-se, pois, de uma luta prioritária trabalhar pela garantia e exequibilidade dessas importantes bases que são também horizontes inspiradores. Ressalte-se: dentre essas bases, o princípio da fraternidade tem peculiaridades e dinâmicas próprias. É determinado por modos de agir que se relacionam com o que cada pessoa leva no coração, sustentando o exercício cidadão nos parâmetros da vocação missionária de se promover o bem comum, a justiça e a paz. O ser humano é instado a ter no horizonte de seu caminho a responsabilidade de manter acesa a chama do advento da fraternidade.

O advento da fraternidade depende de práticas e de referências importantes, inspiradoras e impulsionadoras de novos ciclos, novas dinâmicas. Assim, é capaz de ajudar a construir novos tempos, qualificando o ser humano para se relacionar com o seu semelhante. Isto significa também gerar mais equilíbrio e justiça social na sociedade. No horizonte do advento da fraternidade surge a pessoa de Jesus Cristo, conforme sempre evidencia a Igreja, de modo novo e apaixonado, especialmente no tempo de preparação para o Natal. A pessoa de Jesus Cristo é a centralidade da celebração do Natal, oportunidade para encontrá-lo. O Mestre é Aquele que vem, inspirando a ida de todos ao encontro Dele. A presença de Jesus carrega, no seu significado e alcance, tudo o que se pode encontrar de bom, propício e fecundo em igualdade, liberdade e fraternidade.  Sua mensagem condensa as bases da experiência da fraternidade, que alavanca a vivência da liberdade e da igualdade.

Magistral e oportuna, para fecundar a experiência da celebração do advento do Salvador do mundo, Jesus Cristo, é a Carta Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco: convocação para que a humanidade invista no advento da fraternidade. E o advento do Menino Deus é o advento da fraternidade, que tem a sua fonte e ápice na vinda do Salvador. Há de se compreender, pois, que o advento da fraternidade se dará por meio de uma vida vivida com o sabor do Evangelho de Jesus Cristo.  Conforme sublinha o Papa Francisco, trata-se de aceitar o convite a um amor que ultrapassa as barreiras geográficas e espaciais, sem preconceito algum e sem qualquer abominável discriminação, encontrando a felicidade maior, mais completa e duradoura, aquela que vem da alegria de amar o outro como irmão e irmã. A fraternidade tem uma essencialidade simples. Permite, a partir do coração, reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independentemente de sua proximidade física, do ponto da terra onde nasceu ou reside, ressalta a Carta Encíclica.

Legislações indispensáveis, para garantir a defesa de direitos e a promoção da justiça, são muito importantes, e precisam de redação assertiva ancoradas nos princípios da igualdade e da liberdade. De modo ainda mais profundo, a fraternidade exige o coração humano, que precisa ser berço-fonte de uma espiritualidade que fecunde a interioridade, produzindo convicções capazes de efetivar a longanimidade de um querer bem universal. Universal sem generalizações, mas abrangente na especificidade de ser irmão e irmã de verdade e efetivamente de todos. O advento do Natal do Senhor carrega a força transformadora da fé, garantindo, incondicionalmente, a competência de enxergar o próximo para além de eventuais afinidades, interesses, programas ou projetos partilhados.  A fraternidade humana constitui capítulo central na vida dos discípulos de Jesus, comprometidos com a salvaguarda da criação, unidos a todas as pessoas, especialmente aos mais pobres e necessitados. A fraternidade humana é, pois, um valor transcendente, que fortalece a indispensável e urgente solidariedade, inspirando profecia, lucidez das escolhas e respostas para problemas sociais.

O advento do Natal é convocação para investir na conquista e na efetivação do advento da fraternidade - remédio para o descompasso do mundo, equilibrando interioridades e a rede de relações humanas. O projeto de consolidação do advento da fraternidade é grandioso, inigualável em importância, mas é construído a partir de pequenos passos no dia a dia, superando litígios, não se permitindo agir agressivamente, revestindo-se de humildade. Confrontos raivosos ou imposições não comunicam o amor de Deus, não curam feridas e nem levam a entendimentos iluminadores. A fraternidade é o caminho certo e singular para se alcançar a verdadeira paz interior. Uma fonte de sabedoria que conduz o ser humano à justiça, na via da igualdade e da liberdade. Com o advento do Natal do Senhor fecunde-se a efetivação do advento da fraternidade.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Ilustração: Jornal Estado de Minas