Santuário Arquidiocesano

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Domingo
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Artigo de dom walmor

Apelos do Advento

O ano novo na espiritualidade cristã católica começa com o Tempo do Advento, que prepara a humanidade para o Natal do Senhor. Este “ano novo” é precedido da festa litúrgica de Cristo Rei do Universo, inscrevendo no caminho existencial de cada pessoa um horizonte transformador: viver a serviço da vida plena, pela oferta de si, a exemplo do Mestre Jesus que tem sua realeza vivida no “trono” da cruz, seu altar de oblação, com a coroa de espinhos. A cruz, que se torna trono, e a coroa de espinhos remetem à obediência amorosa de Cristo ao desígnio redentor e salvífico de Deus. Assim, o tempo do Advento, para além dos enfeites e das luzes, é período litúrgico celebrativo com riquezas abundantes, expressas em ritos, gestos e, sobretudo, na proclamação da Palavra de Deus. Riquezas que devem tocar profundamente a dimensão existencial do ser humano, sempre carente de qualificação.

Viver o tempo do Advento é oportunidade imperdível para se acolher o convite à conversão, iluminando-se com as luzes da esperança que vêm de uma experiência com força de transformação. Essa vivência contribui para que sejam alcançadas novas respostas humanas, sociais e políticas capazes de ajudar a sociedade a tornar-se mais justa, igualitária, a caminho do Reino de Deus. A espiritualidade do Advento permite um qualificado investimento para que seja encontrado o sentido autêntico do viver humano, possibilitando correções inadiáveis na conduta cidadã. Inspira, assim, nova postura na relação com a casa comum e com o semelhante, marcada pela solidariedade. O tempo do Advento constitui, pois, um percurso espiritual para efetivar o que se expressa nos votos natalinos. O percurso espiritual que se inicia pede dedicação à oração, à escuta de Deus, a partir da vivência da Novena de Natal, das celebrações nas comunidades de fé, de um olhar compassivo e interpelante dirigido aos pobres. Trilhar inadequadamente esse percurso leva ao risco de se experimentar ou de se acentuar um vazio existencial. Significa reduzir a beleza e riqueza do tempo de conversão à apenas uma busca exagerada por comidas, bebidas e compras que expressam um extravagante consumismo.

Vivenciar inadequadamente o tempo do Advento e o Natal tem um preço alto cobrado por meio das lacunas e perdas para o ano litúrgico que se inicia e, consequentemente, com atrasos e contradições no dia a dia do ano civil. Sem a adequada dedicação à espiritualidade, a violência social se recrudesce, a desigualdade se agrava, a gananciosa depredação do meio ambiente avança ainda mais. A sociedade fica, cada vez mais, desfigurada. A espiritualidade é tempero que não pode faltar nos empreendimentos, nos programas e projetos de vida. Sua ausência é responsável pela falta de sabedoria para se efetivar escolhas, pois não se consegue discernir o que é essencial à construção de um tempo novo, no horizonte do sonho de Deus para a humanidade. O horizonte do Advento interage, pois, com incontáveis campos da vida, promovendo incidências na dimensão pessoal e no contexto social.

Vale refletir sobre a força da espiritualidade no enfrentamento dos desafios da sociedade, engolida por uma avalanche de disputas, ganâncias e mesquinhez.  Esses males podem ser enfrentados a partir de um princípio cristão que dissipa a avidez: a caridade. A caridade se fortalece no horizonte de uma festa em que ser “bem alimentado” significa servir aos outros, sobretudo aos pobres, mais do que a si mesmo. Um exercício que possibilita importante aprendizado: saber dar, a cada um, a sua justa medida. Investir na espiritualidade é caminho que ilumina no horizonte a esperança de uma vida eterna. Ao mesmo tempo, é remédio aos apegos e à valorização irracional dos bens terrenos, consequência do distanciamento de Deus que adoece o ser humano e perpetua condutas perversas.

O mundo padece quando o amor é reduzido a um conjunto de interesses, sem qualquer espaço para se viver renúncias e aprender a amar Deus sobre todas as coisas, comprometendo a prática do amor fraterno e universal. A falta de abertura ao amor genuíno impede o coração humano de alcançar a nobreza que o protege de se deixar dominar pelos males da corrupção e da manipulação, que levam a irreparáveis perdas sociais, políticas e humanitárias. Preparar-se bem para celebrar o Natal e vivê-lo adequadamente são exercícios que sublinham essencial convicção: a prioridade de cada pessoa deve ser seguir Cristo, pela singular força transformadora que o encontro com Ele proporciona. É preciso reconhecer o gesto nobre de Jesus, que vem ao encontro da humanidade. Natal é a festa de seu nascimento, da encarnação do Verbo de Deus. Bem preparado e celebrado, Natal é a consciência renovada de que Deus está sempre por perto, na interioridade de cada ser humano.

O tempo do Advento é convite para exercitar o diálogo com Deus em Jesus Cristo, procurando ouvi-Lo, com o coração aberto. Nesse diálogo, partilhar com Jesus sobre os próprios projetos, negócios, sonhos e sofrimentos, lembrando que Deus não costuma falar a almas que não lhe falam. Advento é tempo de consolidar Cristo como fundamento da própria vida. Assim, a celebração do Natal será fecundada pela experiência de reencontrar Aquele que vem ao encontro da humanidade, para ajudá-la a reconhecer o caminho da vida. É necessário preparar-se para compreender, em profundidade, o verdadeiro sentido do amor de Deus pela humanidade, escolhendo ir a Ele, que vem ao encontro de todos. Na condição de peregrinos, é tempo de alimentar a esperança.  Uma esperança que vence escravidões pesadas, gera humildade e ajuda o coração humano a superar o medo, fonte para a soberba e a mesquinhez.

Alimentar a esperança no tempo do Advento possibilita fazer do Natal uma nova página para a vida, livre de amarras que desqualificam a existência humana, chamada à nobreza do amor. Advento é tempo de pedir a Deus, a exemplo dos orantes que se inscreveram na história, bastante vida para reconstruir, em cada um, o templo de Deus, manjedoura do Menino Jesus, restaurando as ruínas humanas e, ao mesmo tempo, encontrando um abrigo seguro em Deus, que sempre vem!

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte