Santuário Arquidiocesano

Ermida da Padroeira de Minas - Basílica da Piedade

08h

15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h

Basílica Estadual das Romarias

Domingo
09h30
11h
16h30

Artigo de dom walmor

Você está em:

Diálogo e Reconciliação

Quando o ser humano abandona o compromisso em se manter na condição de “coração da paz”, perde a capacidade para o diálogo e, consequentemente, compromete importantes valores, a exemplo da reconciliação. Com isso, são gerados prejuízos para diferentes segmentos, instituições e a humanidade. Cresça a consciência sobre a importância de se tornar coração da paz, para que sejam evitadas graves perdas, muitas irreparáveis, provocadas pelos sentimentos da revolta e mesquinhez.    Esses males precipitam pessoas e grupos nas tribulações e sofrimentos, em ameaças violentas. Ferem dignidades, atrasam avanços sociais. Entristece, particularmente, ver a ação de oportunistas e aproveitadores que buscam destruir seu semelhante, ancorados nas facilidades das tecnologias da comunicação. Pessoas que buscam se promover, sacrificando a possibilidade de diálogo, dedicando-se a ataques no âmbito de instituições e segmentos da sociedade. Podem até trair seu semelhante para efetivar visões reducionistas ou obter resultados financeiros. Desconsideram que o diálogo é instrumento indispensável para se alcançar o dom da reconciliação.

Sem diálogo não se consegue estar a serviço da fraternidade, caminho para a reconciliação. Essa tarefa deixa de ser exercida por falta de autoconhecimento e ausência de compreensão a respeito do semelhante. Ser agente de reconciliação está na contramão de todo tipo de vingança e revolta. É trilhar a estrada da recomposição de tecidos sociais e políticos desgastados. Significa atuar no urgente resgate de dignidades feridas, pela superação de conflitos e guerras, de diferentes proporções. Há de se reconhecer as perdas geradas por litígios, dos mais variados tipos. A reconciliação é alcançada justamente quando se investe no encontro de caminhos que garantam o resgate e a promoção da dignidade humana perdida para interesses mesquinhos. Isto porque a reconciliação é processo fecundo e incidente na superação da corrupção e das explorações que alimentam o ódio e a violência.

Processos de reconciliação pedem renúncias e ofertas capazes de fecundar diálogos e recompor relacionamentos. Na direção oposta, quando não se quer perder nada e tudo ganhar, o ser humano facilmente deixa de ser coração da paz. A interioridade passa a hospedar rancores e o desejo de vingança, a mesquinhez e a indiferença, alimentando preconceitos e discriminações. O diálogo torna-se cada vez mais difícil, prevalecendo o isolamento e a terrível consideração do outro como inimigo. Dialogar é sempre o caminho para superar a desconfiança e o medo que fragilizam ainda mais as relações. É, pois, um processo que acende luzes para dissipar as sombras da convivência humana. Dialogar significa trilhar o percurso que leva a entendimentos iluminadores, capazes de alcançar soluções para problemas urgentes.  Sem diálogo, ganha hegemonia a força bélica, o fechar-se nos próprios limites de compreensão, que sempre pede novos horizontes e mais claridade.

Dialogar capacita o ser humano para o perdão, unção terapêutica que vence mágoas e viabiliza uma autêntica fraternidade, compreendida à luz da referência amorosa de Deus. Vale o esforço diário de alimentar a paz, por meio do remédio do diálogo, caminho de reconciliação, priorizando a comunhão fraterna. Para bem viver essa missão, deve-se resgatar, o tempo todo, o desejo de paz que está inscrito no coração de cada pessoa, abandonando o anseio de querer dominar os outros. É preciso, pois, ter especial cuidado para não se deixar contaminar pela mágoa, nem buscar se sobrepor ao outro - alcançar vitórias a todo custo. Quem se deixa contaminar pode se achar defensor do bem e da verdade, mas, na realidade, investe em violentos ataques ao semelhante, não raramente pertencente à mesma família, instituição ou segmento. A defesa do bem e da verdade não pode se tornar justificativas para destruir dignidades e reputações.

Preciosa é a exemplaridade do diálogo de Pedro com Jesus, introduzido pela interrogação: “Senhor, se meu irmão me ofender, quantas vezes lhe devo perdoar? Até sete vezes?”.  Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. Longe de ser conivência com o erro e com a injustiça, trata-se de encontrar, a partir do próprio coração, o caminho da reconciliação. Isto significa também cultivar a força do perdão, em lugar do ódio e da vingança. Aprender a perdoar é sinal de sabedoria essencial às relações de qualidade. Um caminho que desenvolve a capacidade para reconhecer-se irmão e irmã do próximo. A disponibilidade para o diálogo e para a reconciliação constitui balizamento indispensável no processo de construção da paz, iluminando entendimentos alicerçados na verdade e na justiça. Aqueles que cultivam essa disponibilidade podem efetivamente exercer uma virtuosa e necessária liderança, conquistar protagonismo no mundo contemporâneo.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

 

Ilustração: Jornal Estado de Minas