Santuário Arquidiocesano

Ermida da Padroeira de Minas - Basílica da Piedade

08h

15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h

Basílica Estadual das Romarias

Domingo
09h30
11h
16h30

Artigo de dom walmor

Diálogos civilizatórios

Dialogar é o único e insubstituível caminho para a construção ou reconfiguração de um projeto civilizatório. Uma vez abandonado o caminho do diálogo, espaços são abertos para autoritarismos, subjetivismos exacerbados, manipulações e hegemonias de todo tipo, resultando em perdas incalculáveis para a sociedade. Dialogar é tecer clarividências e reconhecer princípios que impulsionam o desenvolvimento integral. Abandonar o diálogo é uma tentação enraizada nas feridas narcísicas que adoecem o ser humano e muitos relacionamentos. No contexto institucional, a falta de diálogo impõe atrasos que ameaçam o bem comum. Nas instâncias governamentais e legislativas, essa carência leva ao desrespeito dos direitos cidadãos. Quando há interrupção de diálogos lúcidos entre os poderes executivo e legislativo, ocorre o consequente distanciamento em relação às demandas fundamentais de uma população, que fica refém de disputas ideológicas e partidárias.

Trocar o diálogo pela “queda de braço” é prejudicar processos com potencial de ajudar a sociedade a se tornar mais fraterna, sem primitivismos que possam ferir a dignidade humana. Essa troca serve para camuflar manipulações que buscam trazer benefício a poucos, normalmente àqueles que possuem mais. E a “corda arrebenta do lado do mais fraco”, contabilizando perdas para os mais pobres e vulneráveis. Lamentavelmente, a prevista tergiversação política, com certa frequência, se reduz a disputas distanciadas do diálogo que configura e mantém a qualidade da vida, a assertividade das decisões e as escolhas que são fruto de qualificadas reflexões. Por isso mesmo, a capacidade para dialogar é caraterística daqueles que se notabilizam na representação política. Esses representantes conseguem evitar que projetos humanitários e estruturantes, capazes de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, sejam destruídos por ideologias partidárias ou pela sede de poder.

O diálogo, instrumento insubstituível na construção civilizatória, contempla uma dinâmica prioritária: a capacidade de escutar. O descaso em relação aos pobres, por exemplo, vem da incapacidade para escutar seus clamores. Dialogar é atitude oposta àquela que caracteriza um monólogo, quando alguém que detém poder busca construir certo distanciamento em relação a possíveis interlocutores. Mais que uma simples escuta de sons emitidos, sem dedicar atenção ao semelhante, o diálogo é um processo autenticamente construtivo e determinante: define rumos de pessoas e instituições, constrói entendimentos, possibilita a partilha de conhecimento, consolida o senso de pertencimento, a partir da valorização da participação. Nesse processo, escutar, em profundidade e pacientemente, é exercício indispensável para qualificar discernimentos e construir adequadas respostas às demandas sociais.

Os clamores dos pobres merecem atenção especial. Ignorá-los significa investir em um bem-estar egoísta, em um sonho mesquinho, alimentando somente o consumo patológico que agrava vergonhosas exclusões.  Consolidar uma sociedade em que, continuamente, cresce a brecha entre ricos e pobres, com portas abertas para privilégios que são contraponto à justiça. Não se pode simplesmente almejar o atendimento dos próprios interesses. O ser humano, em seu projeto de vida, deve exercer sua cidadania de modo responsável, buscando contribuir para a superação de todo tipo de miséria, para a promoção de mais equilíbrio social. Esse exercício adequado da cidadania contempla investir sempre no diálogo, inclusive identificando o que pode levar ao seu enfraquecimento.

Diálogos podem se tornar inviáveis quando envolvem pessoas com mundividências estreitadas, modeladas somente por interesses pecuniários e sede de poder. Não menos grave são as visões de mundo enquadradas simplesmente pela cega disputa ideológica. Essas mundividências inimigas do diálogo levam a guerras entre grupos, nações e instituições. Dialogar adequadamente possibilita êxitos em grandes empreendimentos e projetos, conta determinantemente na construção de soluções para dilemas existenciais e na superação de interpretações subjetivistas. Somente o diálogo, com a dinâmica da escuta, pode curar as feridas do ressentimento e apagar a incandescente brasa da disputa. Quem dialoga pode encontrar o caminho da cura, reconhecendo e distanciando-se dos próprios estreitamentos humanos. Ódios são superados pelo diálogo. Guerras cessam. Inimigos se reconciliam. A alma encontra paz.

A cultura do diálogo é o alicerce e o horizonte para a implantação da cultura do encontro, uma demanda urgente e contemporânea para promover solidariedades. Assim, adotar lógicas de respeito à dignidade humana e ao equilibrado tratamento ecológico do planeta. O comportamento ético-moral de uma sociedade, seu patrimônio inegociável, depende dos diálogos, essenciais à construção de novos parâmetros civilizatórios. Dialogar sempre, sempre, sempre.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte