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Artigo de dom walmor

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Esgotamento e escassez

Tudo o que se esgota torna-se escasso. Uma frase que precisa gerar incômodos neste momento da história, quando a humanidade é desafiada a encontrar um novo modo de viver no planeta, a casa comum. O sexto mês de 2024 expirou-se e, durante seu transcurso, oficialmente, se promoveu a Campanha Junho Verde, buscando mais conscientização ecológica. É difícil precisar o alcance da Campanha, mas, certamente, a grande maioria ignorou o seu apelo. Muitos ainda permanecem alheios ao catastrófico descompasso ambiental que aflige a humanidade, gerando, entre tantas consequências, as radicais variações climáticas, com gente morrendo de calor, enquanto outras partes do mundo padecem com enchentes e frio extremo. As reações da natureza ao desequilíbrio provocado pelo ser humano são fortes e impõem sacrifícios. Mesmo assim, muitos tratam esse desequilíbrio como uma conta que é de responsabilidade de outros, sem reconhecer a própria responsabilidade. O esgotamento do meio ambiente, assim, tem sido tratado de modo irresponsável: de um lado, muitas abordagens técnico-científicas, legislativo-mercadológicas, com narrativas especializadas na defesa das perspectivas de determinados segmentos que buscam somente o lucro, de outro lado está o cidadão comum sem educação ecológica. Uma combinação perigosa, que acelera processos de esgotamentos do meio ambiente, conduzindo a humanidade à escassez de recursos essenciais.

A ausência de educação ecológica impulsiona o gosto pelo esbanjamento, grande risco para o equilíbrio essencial à vida no planeta. Por isso, é urgente trabalhar para que todos os cidadãos tenham ciência a respeito de questões simples, mas que são essenciais para que seja revertida a progressiva deterioração do planeta. Não é novidade que a casa comum recebe, ininterruptamente, toneladas de resíduos a cada ano, mas constitui desafio fazer cada pessoa perceber e assumir a sua responsabilidade na contaminação da casa comum. Perceber e assumir a responsabilidade constitui etapa essencial para reagir, mudando os próprios hábitos. O Papa Francisco não hesita em afirmar: a casa comum está se transformando, cada vez mais, em um grande depósito de lixo. E o lixo, ao contaminar o meio ambiente, produz efeitos danosos sobre a saúde humana. Se o planeta adoece, a sociedade também fica doente. E saúde é um dom precioso que, quando perdido, exige tempo e alto preço para ser recuperado. A correlação entre a saúde do planeta e de cada ser humano precisa sensibilizar, cotidianamente, todas as pessoas, de modo especial os formadores de opinião, governantes, educadores, para alcançar o coração de cada cidadão.

A contribuição de todos na reversão dos processos de degradação ambiental é indispensável. Já permanecer insensível aos sinais da natureza é verdadeira tragédia. O ser humano, ao se tornar consciente sobre o seu papel na deterioração do planeta, contrapõe-se a um grave causador da desarmonia na casa comum, bem lembrado pelo Papa Francisco, em sua Carta Encíclica Laudato Si’: a cultura do descarte, que precisa ser combatida e substituída por práticas ecológicas. Nesse horizonte de interpelações, que focaliza o aproximar-se de situações perigosas, está a questão da água, um bem essencial. Dentre os esgotamentos que ameaçam a vida, a água constitui um capítulo que merece muita atenção, pois é impossível imaginar viver sem esse recurso essencial. Essa obviedade precisa incomodar mais, para inspirar mudanças de comportamento até no ambiente doméstico, para que seja evitado o desperdício nas torneiras, no chuveiro. Ainda mais urgente, pois gera impactos especialmente severos, é combater os gravíssimos assoreamentos produzidos, por exemplo, por mineração predatória e extrativista, sob o olhar compassivo e conivente de governantes e legisladores. Sem água potável não há vida. E a progressiva diminuição da água disponível desenha uma possível realidade desoladora, com esse bem tornando-se objeto de disputa, de predatória exploração comercial, gerando exclusões e, até mesmo, focos de conflito.

As grandes cidades já sofrem com a escassez de água, mostrando debilidades do poder público no exercício de suas obrigações. Ainda mais nesses cenários de escassez, deve ser considerada a necessidade de se garantir água aos mais pobres, com qualidade e de modo suficiente. Privá-los desse direito é, criminosa e impiedosamente, ceifar suas vidas. Há de se investir em programas, projetos, atitudes e posturas pela superação do desperdício, despertando consciências ante a gravidade do problema. Tenha-se presente que a escassez de água incide também sobre o preço dos alimentos, sacrificando ainda mais a sociedade, perpetuando estatísticas de gente passando fome ou ameaçada pela desnutrição.

O período de promoção da Campanha Junho Verde está chegando ao fim, mas o seu chamamento para uma reação permanece. A pertinência e urgência da temática ambiental requerem, de todos, uma permanente e imediata dedicação. Não se pode esperar o próximo ano para reagir, nem aguardar sofrer as consequências mais graves das devastações ambientais para se dedicar a mudanças. As convocações da Campanha Junho Verde devem inspirar novos hábitos diariamente, fortalecendo a compreensão de que todos os organismos vivos estão fortemente vinculados com as condições do meio ambiente. Ora, a sociedade depende da natureza, necessita dela para tudo. O esgotamento ambiental precisa ser combatido com a busca pela superação dos desperdícios e dos estilos de vida incompatíveis com a sustentabilidade da casa comum. É tempo de compreender mais sobre ecologia, todos se fazendo aprendizes, para que a humanidade não padeça, cada vez mais, com diferentes tipos de esgotamento e escassez.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte