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Artigo de dom walmor

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O Papa Francisco evoca uma significativa passagem do profeta Isaías, sublinhando: será dada a decisão a povos numerosos para que efetivem a fundição de espadas em relhas de arado. A metáfora, retomada pelo Papa Francisco na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz, é muito oportuna no atual contexto de corrida armamentista, quando se requer nova mentalidade capaz de contribuir para a paz mundial, para o respeito irrestrito aos que querem viver pacificamente. A referência a Isaías, o “profeta da esperança”, remete ao caminho para a paz, possível desde que não sejam negociadas referências fundamentais, especialmente o reconhecimento da sublime presença de Deus e, consequentemente, da sacralidade da vida de cada pessoa. A profecia de Isaias reza o tempo em que nenhuma nação pegará em armas uma contra a outra, e nunca mais se treinará para a guerra. O convite é simples: caminhar à luz do Senhor, fundamentando decisões e escolhas em princípios ético-morais.

Em sua profecia, ao preconizar uma subida jubilosa à montanha de Sião, Isaías aponta um horizonte cuja amplitude tem força para debelar muitos estreitamentos, relacionados à priorização de interesses de grupos muito restritos, em prejuízo do bem de todos. A simbologia da transformação de espadas em relhas de arado, clarividente no mundo da agricultura, é a opção de colocar tudo sempre a serviço do desenvolvimento integral, por um humanismo que não venha a ser desconsiderado por arroubos expansionistas, por interesses egoístas, em prejuízo dos mais fracos. Mas para alcançar esse tempo de paz, é preciso ter clareza sobre a realidade e seus riscos. Dentre os desafios para a superação dos muitos conflitos, o Papa Francisco adverte sobre a sedutora e entusiasmante emergência da inteligência artificial, que pode ser equivocadamente utilizada para operações militares de sistemas de controle remoto. Essas operações militares, conduzidas por algoritmos, podem comprometer a percepção humana sobre a devastação causada em conflitos. São capazes ainda de levar a relativizações perigosas sobre as consequências e responsabilidades dessas operações militares.  Um cenário propício para que a humanidade conviva com guerras ainda mais devastadoras.

O Papa Francisco lembra que a pesquisa sobre tecnologias emergentes no setor dos chamados sistemas de armas letais autônomas, incluindo a utilização bélica da inteligência artificial, é grave motivo de preocupação ética.  Ora, é evidente: sistemas autônomos nunca poderão ser sujeitos moralmente responsáveis. Apenas seres humanos são capazes de julgar e decidir eticamente.  Uma decisão ética é muito mais que um conjunto complexo de algoritmos. Por isso, a responsabilidade humana não pode ser relativizada ou negociada. Ao contrário, as atitudes e relações que ocorrem no contexto de uma civilização devem estar sob a regência da ética, totalmente vinculada às capacidades humanas – e não ao universo tecnológico.

Quando a ética preside as relações, o progresso econômico e social, alcança-se a compreensão partilhada pelo Papa Francisco, que afirma categoricamente: o mundo não precisa que as novas tecnologias contribuam para o iníquo desenvolvimento do mercado e do comércio de armas, alimentando em desarvoro a loucura da guerra. Os avanços técnicos e as conquistas científicas não podem dispensar a regência ética do ser humano, essencial para que sejam evitadas ações violentas na busca pela solução de conflitos. Quando se promove um confronto, abandona-se a tarefa de ser agente da paz. E a promoção da paz é o primeiro passo para que haja desenvolvimento sustentável, capaz de tornar o mundo mais justo.

A inteligência artificial possa ser usada para promover o desenvolvimento humano integral, inspirando inovações na agricultura, na educação, na cultura, na melhoria de vida de todas as nações, priorizando a superação da miséria e da fome, a serviço da consolidação da amizade social. A humanidade, a partir da tecnologia, tem a chance de melhorar o mundo, valendo-se de escolhas alicerçadas na ética. Um caminho para superar lógicas perversas, excludentes e egoístas que têm se revelado de diferentes formas, a exemplo de certos discursos e debates políticos com incidências maléficas no tecido social, com repercussões em diferentes setores, alimentando intolerâncias. Parâmetros éticos iluminem os horizontes das pesquisas para que a tecnologia realmente promova conquistas a serviço de todos, especialmente dos mais pobres. Assim se efetivará a opção de transformar espadas em relhas de arados pela força da ética, sem jamais negociar a vida. E, conforme a profecia de Isaias, se caminhará na luz do Senhor,  vida plena para todos.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte