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Artigo de dom walmor

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Fala com autoridade

Fala com autoridade é a óbvia constatação daqueles que, na sinagoga de Cafarnaum, ouviam o ensinamento de Jesus. Um ensinamento novo, partilhado com autoridade, que impacta e desperta admiração. Atualmente, há carência das falas com autoridade que sejam bem diferentes daquelas tão comuns, eivadas de ideologizações que aumentam os riscos de polarizações fratricidas e, consequentemente, capazes de atravancar os necessários avanços sociais. São urgentes falas com autoridade neste tempo em que vozes se espalham com “velocidade da luz”, pelas redes sociais. Convive-se com falas sem consistente fundamentação e, por isso mesmo, incapazes de ajudar na resolução de problemas ou na promoção do diálogo. E o diálogo é instrumento indispensável na efetivação e promoção da democracia, do respeito a direitos e na construção de uma sociedade igualitária, solidária.

Das instituições pilares da democracia, a sociedade espera a disponibilidade para a construção de um entendimento, respeitando a independência de suas identidades, sem o risco de obscurecer consciências em razão da perversão de seus integrantes. Constata-se que muitos seguem na contramão do entendimento, por causa da disputa de poder entre poderes, no horizonte perigoso da partidarização com ideologizações perniciosas. As fragilidades consequentes decorrem da falta de diálogo em alto nível, fundamento para efetivar procedimentos que fortaleçam o Estado e favoreçam o bem da Nação. Não se pode destruir o Direito pela força corrosiva da perversão daqueles que exercem o poder. As instituições religiosas, educativas e culturais estão desafiadas a entrar em cena, com uma palavra de lucidez, para ajudar a sociedade a não deixar que polarizações se tornem a voz dominante.

É preciso promover a essencial harmonia que fundamenta a adequada construção cultural e sociopolítica da sociedade, tarefa árdua que requer diálogo. Vai ficando tarde para essa movimentação quando se pensa que já se aproxima o ano eleitoral. Sabe-se do desafio enorme para não se dar soberania à mentira ou cegamente envolver-se nas disputas político-partidárias. Muito bem comentou, em tom de advertência, o Papa Bento XVI, sobre o cinismo da ideologia que pode obscurecer consciências com promessas. Assim, justificar o uso dos meios considerados como adequados para alcançar o que foi prometido, permitindo-se abolir a noção de direito e mesmo a distinção entre bem e mal. Escolhas políticas precisam ser assentadas em valores morais que não podem ser relativizados. A fidelidade a esses valores é que garante credibilidade a homens e mulheres, capacitando-os a falar com autoridade, iluminados por um horizonte largo, humanista.

A sociedade brasileira carece de líderes políticos capazes de falar com autoridade e, assim, protagonizar ações com importante incidência no tecido social, cultural, à altura dos valores e das riquezas inscritas na história do Brasil. Ora, a autoridade política, ensina a Doutrina Social da Igreja Católica, é o instrumento de coordenação e direção mediante o qual se tem a força para aglutinar indivíduos, instituições e procedimentos a serviço do crescimento integral. Esta autoridade é bem exercida dentro dos parâmetros da ordem moral, seja na comunidade como um todo, seja nos órgãos representativos do Estado. Importa reconhecer que líderes na política devem cultivar especial respeito à ordem moral, capacitando-se para falar com autoridade e, assim, ir além de subjetivismos partidários, para construir novos entendimentos.

É verdade que a construção de uma sociedade não se opera sem alianças, mas isso não significa dar lugar às barganhas, à mesquinhez, aos interesses pouco republicanos, distanciando-se de princípios morais. Entendimentos devem ser construídos a partir de palavras capazes de inspirar disponibilidade de cooperação e o compromisso cidadão. A história da humanidade reúne períodos difíceis e intrincados, mas que foram vencidos com o auxílio de lideranças que falam com autoridade, distantes da mediocridade. Líderes que fortalecem suas instituições por se dedicarem à promoção do diálogo e da cooperação capazes de tecer nova cultura, inaugurando novos ciclos sociais. Essa capacidade humana de superar momentos desafiadores deve motivar a busca pela superação das crises deste tempo, de maneira republicana e solidária, longe de rancores e disputas. A sociedade brasileira precisa urgentemente de pessoas capazes de inspirar o diálogo que vai além das disputas por “cargos” e “cadeiras”. A hora pede, em lugar de polarizações e desserviços, um empenho construtivo de todos para se conseguir a sabedoria de fazer das diferenças uma riqueza.

Cada cidadão é chamado a contribuir para promover lógicas e novos hábitos capazes de garantir o cuidado com o meio ambiente - a casa comum - e a efetivação de políticas públicas inclusivas, expressando efetivo zelo por uma ordem sociopolítica mais participativa e justa. É hora de pensar o Brasil a partir de suas riquezas e potencialidades, longe de interesses meramente partidários ou de deliberações que busquem favorecer privilegiados. Diante da exigência de se construir uma sábia atitude patriótica no cuidado com o Brasil torna-se oportuno retomar a recomendação de Mário de Andrade, em uma carta endereçada a Carlos Drummond de Andrade: “Carlos, devote-se ao Brasil, junto comigo. Apesar de todo o ceticismo, apesar de todo pessimismo (...) seja ingênuo, seja bobo, mas acredite que um sacrifício é lindo (...). Nós temos que dar ao Brasil o que ele não tem e que, por isso, até agora não viveu, nós temos que dar uma alma ao Brasil e para isso todo sacrifício é grandioso, é sublime. E nos dá felicidade (...) é no Brasil que me acontece viver, e agora só no Brasil eu penso...”. Eis um modo de pensar e uma disponibilidade para agir que fundamentam falas com autoridade.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte