Santuário Arquidiocesano

Ermida da Padroeira de Minas - Basílica da Piedade

08h

15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h

Basílica Estadual das Romarias

Domingo
09h30
11h
16h30

Artigo de dom walmor

Você está em:

Falar com o coração

“Falar com o coração” é o apelo do Papa Francisco em sua mensagem dedicada ao 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais, no contexto da celebração litúrgica da Ascensão de Jesus Ressuscitado ao Céu. O apelo de “falar com o coração” é remédio precioso para o momento atual, contaminado por um amplo e destruidor lastro causado pela retórica belicista que toma conta dos corações. Uma realidade onde se consolida a lógica de narrativas perversas, a ponto de muitos buscarem vitórias a partir da destruição do outro, da desconsideração de projetos importantes para o desenvolvimento integral. O apelo do Papa Francisco é, especialmente, uma exigência para os cristãos, pois a espiritualidade cristã exige, precisamente, a conversão do coração. Sublinha, assim, importante verdade: é no coração que se define o destino da paz.

Do coração podem brotar as palavras certas para dissipar as sombras de um mundo fechado, dividido. Assim, a meta de edificar uma sociedade melhor requer o comprometimento de cada um, especialmente dos agentes da comunicação, que devem exercer o seu trabalho como missão. Compreende-se que a necessária comunicação, sem desconsiderar a sua sofisticada dimensão técnica, pede principalmente que seus agentes busquem a qualificação de seus corações. Não bastam as narrativas inteligentes, falar com o coração determina rumos. Lembra o Papa Francisco que o coração move o ser humano para ir, ver e escutar o seu semelhante, propiciando uma comunicação aberta e acolhedora. Conta também, e de modo determinante, o adequado exercício da capacidade de escutar, que requer paciência. Igualmente importante é a sabedoria para reconhecer os momentos em que se quer simplesmente impor o próprio ponto de vista a outra pessoa.

Há de se cuidar para que os próprios pontos de vista não sirvam somente para estabelecer barreiras que prejudicam as relações, impedem o diálogo e a partilha. A mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais ressalta que a escuta do outro, com o coração, é o único caminho para poder falar testemunhando a verdade no amor. Por isso, o Papa Francisco diz: não se deve ter medo de proclamar a verdade, por vezes incômoda, mas evitar, decisivamente, de o fazer sem amor, sem o coração. Ao invés disso, deve-se expressar por meio do coração, que revela, em seu palpitar, a interioridade de cada pessoa. Isso leva o ouvinte a encontrar a mesma sintonia, chegando a ponto de sentir, no próprio coração, o pulsar que vem do coração do seu semelhante, ensina a mensagem do Papa Francisco, que acrescenta: então pode ter lugar o milagre do encontro, com olhares recíprocos marcados pela compaixão – uns acolhendo a fragilidade dos outros com respeito, em vez de prevalecer a atitude de julgar, a semeadura de discórdia e divisões.

Atualmente, consideradas as facilidades oferecidas por diferentes mídias, torna-se cada vez maior o risco de precipitações: há quem busque alcançar objetivos, efetivar planos de vingança, a partir da destruição do semelhante, valendo-se da comunicação. Muitos outros alimentam o nocivo gosto por essa comunicação destrutiva, contribuindo, de certo modo, para disseminá-la. Esses comportamentos apontam para a necessidade de se buscar a conversão do próprio coração. Sem essa conversão, investe-se em uma pesada rotina de tudo fazer para impor ao mundo os próprios raciocínios e conclusões. Um caminho que conduz a lutas perversas, consequência de um coração estreitado pelas próprias mágoas. Passa-se a acreditar que somente há valor no que leva à realização dos próprios interesses – uma perspectiva individualista.

Quando propósitos pouco nobres e o sensacionalismo tornam-se alma da comunicação agravam-se muitas doenças da humanidade. Por isso, é importante retomar a lembrança oportuna do Papa Francisco, que ajuda na efetivação de uma comunicação construtiva e restauradora da paz: Jesus ensina que cada árvore é conhecida pelo seu fruto (cf. Lc 6, 44). De igual modo “o homem bom, do bom tesouro do seu coração, tira o que é bom. E o homem mau, do mau tesouro, tira o que é mau; pois a boca fala da abundância do coração” (cf. Lc 6, 45). Para comunicar testemunhando a verdade no amor, é preciso purificar o próprio coração, resume o Papa. Somente ouvindo e falando com o coração puro é que se pode ver para além das aparências, superar rumores confusos que não ajudam nos necessários processos de discernimento exigidos pela complexidade do mundo contemporâneo. O apelo para se falar com o coração interpela radicalmente este tempo, tão propenso à indiferença e à indignação, muitas vezes provocadas pela desinformação que falsifica e instrumentaliza a verdade.

A mensagem do Santo Padre traz outra preciosa indicação quando lembra que neste tempo, de tantas polarizações e oposições, a busca por uma comunicação “de coração e braços abertos” não deve envolver exclusivamente os agentes da informação. Cada pessoa deve também assumir essa responsabilidade. Todos são chamados a procurar a verdade e a dizê-la, mas com amor. De modo particular, os cristãos são exortados a guardar continuamente a língua do mal (cf. Sl 34, 14), pois com ela – como ensina a Escritura – pode-se bendizer o Senhor e amaldiçoar os homens feitos à semelhança de Deus (cf. Tg 3, 9). Vale refletir sobre o que diz o apóstolo Paulo: da boca não deveriam sair palavras más, “mas apenas a que for boa, que edifique, sempre que necessário, para que seja uma graça para aqueles que a escutam” (Ef 4, 29). Guarde-se o compromisso do falar amável, capaz de abrir uma brecha até nos corações mais endurecidos. Falar com o coração é o caminho para uma grande revolução humanitária, desenhando novos e esperançosos horizontes para o mundo.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte