Os monumentos, no contexto de uma sociedade, trazem uma evocação que ultrapassa a singularidade da engenharia e da arquitetura, contribuindo para edificar a memória que é alicerce da cultura – determinante nas escolhas, definições e atitudes. Assim, os monumentos ocupam lugar nobre na configuração social, interagindo com mecanismos organizacionais, políticos e econômicos que devem sempre estar alinhados ao compromisso inegociável de se promover justiça e paz. Monumentos, do passado e da contemporaneidade, no mundo religioso, educacional, político, cultural têm uma grande importância ao alimentar a memória - tesouro e patrimônio de um povo. Por isso mesmo, não podem ser tratados a partir de parâmetros medíocres, sem o mínimo conhecimento histórico e cultural. Nem mesmo reduzi-los a perspectivas simplistas, julgando-os “feio” ou “bonito”, em análises incapazes de enxergar a força significante e a incidência dos monumentos na vida cotidiana de cada um e nas dinâmicas da sociedade.
A importância dos monumentos - edifícios, templos, arquiteturas de praças e ruas – é incontestável, recebendo tratamento destacado em sociedades mais avançadas em todo o mundo. As identidades de povos, nações, os valores que não podem ser descartados pois sustentam o encanto pela cultura se inscrevem e são promovidos pelos monumentos, que têm força de atração: constituem referência turística, educativa e experiencial, contribuindo para fazer girar a máquina da economia. Merece especial destaque os monumentos que impulsionam o turismo religioso, com propósitos espirituais prioritários, também com força para promover o desenvolvimento econômico com sustentabilidade e dignidade humana, gerando postos de trabalho. Os monumentos são “livros” de história, detalhando a vida sociopolítica, religiosa e cultural de um povo. Produzem sentidos que sustentam a vida, promovem a paz, tendo, pois, determinante incidência no dia a dia de uma cidade ou nação.
Em um ato de abstração, imagine-se, por um instante, a possibilidade de apagar a existência de todos os monumentos. Lançar-se-ia a realidade em estado de extrema pobreza, sem referências essenciais à configuração de identidades que alicerçam a cultura. Esse exercício de abstração que permite vislumbrar uma realidade caótica, carente de sentidos, leva a reconhecer: não se alcança desenvolvimento econômico simplesmente gerenciando os juros bancários ou a partir do acúmulo ilimitado de patrimônio, indo muito além do que seria suficiente para garantir uma vida digna. Monumentos escultóricos de especial relevância não apenas embelezam, com singularidade, com força atrativa de visitação, movimentando positivamente a economia, também prestam serviços essenciais na qualificação da vida humana e social. Apesar dessa importância, constata-se um obscurecimento no entendimento sobre a importância de investimentos e doações destinados à promoção do patrimônio cultural.
Dentre os monumentos, os templos religiosos, fundamentalmente, as igrejas cristãs católicas, mundo afora, por suas singularidades arquitetônicas e inteligência especial na engenharia, são uma força motora da cultura e da economia. Com especial capacidade para atrair visitantes, promovem, ao mesmo tempo, a dignidade humana e o desenvolvimento econômico. Um horizonte em que se inscreve a edificação da Catedral Cristo Rei, demanda da Igreja Católica centenária na capital mineira e na sua região metropolitana. A obra foi concebida a partir do conceito medieval de catedral: ao redor do seu coração, o templo, espaço celebrativo e de oração, agrega-se o serviço social, a arte, a cultura, a comunicação e ação missionária. Catedral que é, ao mesmo tempo, abrigo para os pobres e berço do conhecimento, lugar de memória e de incontáveis iniciativas dedicadas à comunidade, emolduradas por elementos artísticos, culturais, sociais, especialmente religiosos, colocando a realidade urbana que hospeda a obra monumental em um patamar diferenciado.
As conquistas e os ganhos são incontáveis justificando a clarividência do entendimento de se investir na edificação da Catedral Cristo Rei a partir do compromisso de, nobremente, contribuir com a construção de uma sociedade melhor, capacitada a alcançar novas conquistas, inclusive econômicas. Entre as conquistas, notabilizam-se as singulares experiências de contemplação, que ajudam o ser humano a elevar-se ao transcendente. Os pórticos da Catedral Cristo Rei e a ambientação sacro-litúrgica da igreja muito ajudarão os visitantes a vivenciarem essas experiências. A Igreja é “templo vivo” configurada pela comunidade de fé - seus membros todos são morada-templo do Espírito Santo. O povo de Deus se congrega também em lugares que vão além da simples disposição de tijolos, argamassa ou concreto. Os templos são monumentos que alimentam a memória, mantendo acesa a chama que orienta um povo em seu caminhar pelo mundo.
Neste contexto, a Catedral Cristo Rei, em construção, possibilita leituras ricas sobre a realidade, ajudando a iluminar visões, tornando-se ponto de encontro em torno de valores e princípios do inesgotável tesouro da fé cristã católica. Templo que presta serviços à espiritualidade, à arte, à cultura, aos pobres. Monumento escultórico de especial relevância que abre caminho para o céu - a pátria definitiva – o lugar sem medos e sem lágrimas. Edificar monumentos assim é enriquecer a memória de um povo em cada época da história. Memória, mais do que simples lembrança que reporta a um passado, é fundamento para construir o presente e o futuro na vida do ser humano. Os povos e suas histórias são construídos também por monumentos, importantes para vencer diferentes formas de pobreza e, assim, abrir caminho para um novo tempo, de mais fraternidade e solidariedade.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte