Santuário Arquidiocesano

Ermida da Padroeira de Minas - Basílica da Piedade

08h

15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h

Basílica Estadual das Romarias

Domingo
09h30
11h
16h30

Artigo de dom walmor

Você está em:

O alerta do Papa Francisco

O Papa Francisco, em tom de advertência, faz um novo apelo, na Exortação Apostólica “Laudate Deum/Louvai a Deus”, à consciência ecológica mundial: governantes, servidores do povo, Igreja e toda a sociedade precisam dedicar especial atenção à crise climática global. O novo apelo estabelece relação de continuidade com a Carta Encíclica “Laudato Sì”, publicada há quatro anos, quando o Papa Francisco, magistralmente, iluminou a compreensão, o sentido e o alcance do conceito de ecologia integral. A Carta Encíclica sublinhou que as questões ambientais não estão isoladas, nem podem ser tratadas fora do horizonte maior relacionado à dignidade humana, diante do compromisso da inviolabilidade da vida em todas as suas etapas, da concepção ao declínio com a morte natural. Tudo está interligado e convive-se com prejuízos terríveis quando não se tem o olhar terno de Jesus dedicado a toda Criação.

O olhar de Jesus inspirou a vida de Francisco de Assis, seus cânticos e gestos. São Francisco bem expressou a sensibilidade de Jesus diante das criaturas de seu Pai.  Seu olhar terno e reverente está na contramão do planeta maltratado: a situação da Terra mostra que o cuidado com a casa comum ainda não é suficiente. O que se verifica é o assombro de prejuízos irreversíveis que mortalmente atingem a dignidade do ser humano. Esses prejuízos são apontados pelo Papa Francisco com a força de uma profecia corajosa. Os cenários de pobreza e de exclusão social, conflitos, mortes, manifestações furiosas da natureza comprovam a gravidade da situação, que ameaça a dignidade humana. Por isso, a insistente lembrança de que tudo está interligado, inspirando o engajamento de todos para a adoção de um novo estilo de vida. É preciso superar determinados modos de agir no mundo, indiferentes em relação ao planeta, pautados pela mesquinhez - recordando acontecimentos narrados na Bíblia.

A narrativa da arca de Noé, Livro do Gênesis, expressa, com especial força performativa, como se chega fácil ao caos irreversível. Não se trata de uma simples abordagem ligada à preservação da fauna e da flora. Inclui a necessidade do cuidado com o semelhante, condição essencial para a autopreservação.  Nessa perspectiva, as alterações climáticas trazem consequências para cada pessoa, exigindo uma adequada resposta de todos, com a adoção de um novo estilo de vida. O ataque à natureza, seja qual for a intensidade e circunstância, traz consequências nefastas à vida de todos. A defesa do meio ambiente não se trata de uma questão secundária ou ideológica. Diz respeito ao enfrentamento de um problema que prejudica todos os homens e mulheres, em qualquer parte do mundo. Uma situação que, se não for enfrentada, levará ao agravamento de tantos outros flagelos: a guerras, a fome, a miséria, a exaustão dos recursos naturais e de tantos outros bens escassos, a exemplo da água.

O apelo do Papa Francisco mostra que não se pode negar, esconder e dissimular os sinais de problemas graves. A humanidade já convive com fenômenos extremos - calor anormal, seca e outros “gemidos” do planeta Terra. São sinais de uma doença silenciosa que está solapando a vida no planeta, particularmente das pessoas. É preciso escutar o grito do planeta e dos pobres, pois a gradativa elevação da temperatura global faz progressivamente crescer a probabilidade de eventos catastróficos. O aumento das temperaturas no planeta somente pode ser vencido com readequações de práticas cotidianas e de legislações regulatórias. As atitudes de cada cidadão e as legislações precisam de mais assertividade – livres de manipulações do poder econômico, sob pena de toda a humanidade padecer com pesos esmagadores. Por isso, todos precisam buscar se informar, refletir e se posicionar diante de tudo que leva à degradação ambiental.

Muitas vezes, até dados científicos são usados na formatação de argumentos que relativizam a gravidade dos problemas enfrentados pelo planeta. Ridiculariza-se o aquecimento global, com gente se referindo a “frios extremos”.  Há também quem atribua aos pobres a responsabilidade pela exploração predatória de recursos, argumentando que “eles têm muitos filhos”. Buscam, assim, justificar a mutilação de mulheres e outros absurdos, como o aborto. Atribuir responsabilidade aos pobres apenas acentua lógicas de exclusão e contribui para o esgotamento extrativista da natureza. Dentre as muitas outras justificativas para não se enfrentar o fenômeno do aquecimento global está o argumento de que reduzir o consumo de combustíveis fósseis trará graves consequências sociais, como a eliminação de postos de trabalho. Ignora-se que trabalhadores já estão perdendo seus empregos em razão das mudanças climáticas.

Para iluminar a consciência ecológica, todos devem buscar conhecer as causas que têm levado o planeta ao desequilíbrio. Papa Francisco, na veemência e urgência do seu apelo e advertência, mostra, em seis capítulos da Exortação Apostólica “Laudate Deum/Louvai a Deus”, as causas humanas de tudo o que está acontecendo. A Exortação Apostólica enfatiza, particularmente, a força dominadora do crescente paradigma tecnocrático, comprovando sua perversidade, as suas indiferenças relacionadas às exigências e às urgências deste momento. Todos são convidados a participar da “mesa de debate” dedicada a encontrar caminhos para trazer equilíbrio ao planeta, a reverter o progresso das mudanças climáticas.  Sejam promovidos diálogos capazes de superar dogmatismos e indiferenças por um novo tempo, por um novo e urgente estilo de vida.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte