Santuário Arquidiocesano

Ermida da Padroeira de Minas - Basílica da Piedade

08h

15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h

Basílica Estadual das Romarias

Domingo
09h30
11h
16h30

Artigo de dom walmor

Você está em:

“Partir de Cristo”

“Partir de Cristo” é a primeira indicação para quem busca alcançar o sentido indispensável da vivência e das celebrações deste tempo da Quaresma. Os ritos e exercícios da Quaresma ganham vigor quando se reconhece a centralidade de Cristo na vida pessoal e na relação com o semelhante. Os que creem em Cristo sabem o que pode ocorrer quando discípulos se distanciam do Mestre Jesus: condutas contaminadas por escolhas e atitudes que estão na contramão da fraternidade universal. O mundo pede aos cristãos maior proximidade com o seu Mestre. Clama por um jeito novo de ser, que desperte sensibilidades para que sejam encontradas novas direções, capazes de levar à renovação da sociedade, tão desgastada. Primordial é exercitar-se, individual e comunitariamente, na competência espiritual e humana de sempre “partir de Cristo”, alimentando a convicção de que conhecer Jesus pela fé é experimentar a verdadeira alegria procurada pelo coração humano. Essa alegria tem efeitos transformadores pela graça de segui-Lo.

Seguir Jesus é oportunidade para vencer irracionalidades que vitimam a sacralidade da dignidade humana e nutrir uma esperança que não é enganadora. Quaresma constitui, assim, um tempo favorável para práticas que alicerçam o dom do encontro, ou do reencontro com Jesus Cristo. Tempo para nutrir-se da convicção de que partir sempre Dele garante qualidade ética e existencial ao viver humano. A proximidade com Cristo possibilita a cada pessoa ser instrumento da paz, revestindo a interioridade com as propriedades da misericórdia, inesgotáveis no coração do Mestre e Senhor. O Evangelho tem essa novidade precisada pelo coração de todos, para que cada um se fortaleça na condição de discípulos e discípulas de Jesus. Trata-se de uma experiência forte e transformadora. Por isso, vivenciar as propostas e interpelações do tempo quaresmal é colocar ao próprio alcance valiosa experiência de ser cristão autêntico. Isto possibilita superar muitos desgastes existenciais.

O encontro com Jesus Cristo, pela fé, é muito mais que experiência casual. Oferece um novo horizonte à própria vida, alcançando a desejável, urgente e decisiva orientação que é buscada por todos, capaz de conferir sentido à existência de cada um. A Quaresma, culminando com a vivência da Semana Maior, a Semana Santa, é a possibilidade concreta e graciosa de se desenhar um novo horizonte na própria história, com repercussões na vida familiar e social. A vivência quaresmal, iluminada pela força da Palavra de Deus, permite saciar a sede experimentada no coração humano. Leva a um aprendizado essencial: partir sempre de Cristo, em tudo que fizer. A recuperação da centralidade de Cristo na própria vida e nas dinâmicas da comunidade de fé é meta primordial da celebração do tempo da Quaresma. Leva ao coração de todos mais força e sabedoria para enfrentar as circunstâncias dramáticas da contemporaneidade. Ilumina iniciativas para que efetivamente possam levar mais equilíbrio aos relacionamentos, alicerçando a edificação de uma sociedade mais justa e solidária.

Quaresma é dom do encontro com Jesus Cristo que possibilita ao ser humano reencontrar-se com a sua própria e genuína essência.  Uma experiência que leva ao aprendizado de lições insubstituíveis para uma vida social e comunitária nos parâmetros da justiça e da solidariedade, alavancas na promoção da paz. Pode-se reconhecer, a partir dos focos de guerra, das situações de penúria enfrentadas por tantos injustiçados, em diferentes contextos, que a humanidade experimenta o seu próprio caminho como enigma indecifrável. E ao compreender o próprio horizonte como enigma indecifrável, percebe-o como fardo pesado e insuportável, sem sentido, sem um rumo a ser seguido. Consequentemente, não são reconhecidas as razões para se investir no compromisso com a solidariedade. A indicação é recuperar Cristo Mestre como “caminho, verdade e vida.”

Iluminadora, pois, é esta convicção: não reconhecer os rumos do próprio caminho leva a um viver desvinculado da verdade, a uma vida sem vida. Trilhar o caminho da Quaresma permite o aprendizado da autêntica liberdade. A vivência frutuosa do tempo quaresmal pelas práticas recomendadas do jejum, da esmola e da oração, recupera a alegria essencial ao coração humano. É oportuno ter presente o que diz o Documento de Aparecida, fruto saboroso e inspirador da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho: “A alegria do discípulo é antídoto frente a um mundo atemorizado pelo futuro e oprimido pela violência e pelo ódio”. Seguir, pois, este princípio - partir sempre de Cristo - é conquistar uma alegria que ultrapassa um mero bem-estar egoísta: faz nascer no próprio coração a alegria que resulta do conhecimento e do encontro com Jesus Cristo - o melhor presente que se pode receber, comprovadamente. Aprenda-se sempre e cada vez mais este princípio: em todas as ações, decisões, pensamentos, sempre partir de Cristo.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)