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Domingo
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Artigo de dom walmor

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Romaria em Brumadinho

A Romaria pela Ecologia Integral, em Brumadinho, neste dia 25 de janeiro, recoloca no horizonte, de modo forte e especial, os familiares e suas joias - vidas perdidas pela tragédia-crime com o rompimento da barragem no Córrego do Feijão, em 2019. Uma memória orante que põe em evidência especial princípio: a vida em primeiro lugar, não podendo ser negligenciada a sacralidade de cada pessoa e do meio ambiente, a Casa Comum. Nenhuma lógica justifica o desrespeito a esse princípio, menos ainda aquelas que estão a serviço do dinheiro. A reverência às 272 pessoas que morreram na tragédia, inesquecíveis nos corações, permite revisitar lições essenciais para se alcançar novo patamar civilizatório. Manter-se distante desse patamar significa continuar assistindo, diariamente, irracionalidades contracenarem com as conquistas fantásticas da inteligência humana, convivendo com guerras, violências e indiferentismos diante da dor do semelhante. Por isso, a Romaria pela Ecologia Integral, vivida no caminho do Ano Jubilar 2025 celebrado pela Igreja, a partir da convocação do Papa Francisco, é clamor por um novo estilo de vida. Há uma dívida ecológica que urge ser paga, por ações concretas e incidentes no tecido social, com efetivo e respeitoso tratamento dedicado ao meio ambiente.

As tragédias ambientais não podem gerar simplesmente monumentos admiráveis em homenagem à memória. Urgente são as medidas de prevenção das catástrofes, com ações que promovam, em primeiro lugar, a vida humana. Para isso, é imprescindível o tratamento técnico e humanístico adequado do meio ambiente. Entristecedor é ouvir pelo noticiário declarações e posturas de líderes políticos que se fecham ao diálogo e privilegiam interesses meramente nacionalistas, esquecendo-se que o mundo “é uma barca”, conforme acentuou o Papa Francisco, durante a pandemia da Covid-19. Nesta barca todos estão, em um destino comum, de vitórias ou de fracassos. A dívida ecológica incide, pois, sobre a vida de todos. Suas consequências representam um preço muito alto já “sentido na pele”, especialmente pelos pobres e vulneráveis da terra.

O pagamento da dívida ecológica deve se tornar meta prioritária para não a deixar aumentar, irresponsavelmente. Neste Ano Jubilar, tempo especial de reconciliação e de perdão, é preciso reconhecer e adequadamente tratar as dívidas. As nações mais ricas são chamadas a reconhecer sua maior responsabilidade na geração da dívida ecológica. O uso desproporcional de recursos naturais causa descompassos de toda ordem, acentuando a extrema pobreza e a desarmonia social. As nações mais ricas, ao invés de degolarem aquelas mais pobres com a cobrança de juros pela dívida externa, devem exercer o perdão, assumindo a responsabilidade por seu próprio endividamento, relacionado à exploração predatória da natureza, pelo horror das lógicas do dinheiro e dos interesses oligárquicos. Combater a injustiça na relação entre países é uma via aberta para a paz. Querer ganhar, lucrar e enriquecer-se a qualquer custo, definitivamente, não são caminhos para solucionar as necessidades comerciais e ambientais de uma nação.

O caminho é aprender as lições substantivas de uma ecologia integral. Com o protagonismo de líderes cidadãos e políticos, promover, profeticamente, uma sensibilização capaz de vencer as inconsequências provocadas pela sede de poder e de dinheiro. A temática ambiental não pode ser tratada de modo estéril e vazio, limitada ao aprofundamento técnico-científico-político da questão. Pede uma reação da civilização contemporânea. A contínua aceleração das mudanças climáticas no mundo, entendendo seu mecanismo próprio, emolduradas por tragédias criminosas e catástrofes lastimáveis, aponta para a urgência de um adequado tratamento dedicado ao meio ambiente, contemplando os laboratórios de cientistas, as cátedras acadêmicas, confissões religiosas e instituições culturais, também cada lar e até mesmo as conversas descontraídas, na sociabilidade cotidiana.

Neste tempo de clima imprevisível, qualquer um pode ser vitimado de alguma maneira, quando menos se espera. Merecem especial atenção e medidas urgentes as mudanças que levam à deterioração do planeta e da qualidade de vida da maior parte da humanidade. Nessa perspectiva, a realização da Romaria, em Brumadinho, fecundada pela força afetiva e amorosa de todos os que sofrem na própria pele os impactos perversos da degradação ambiental, é investimento indispensável para despertar a consciência cidadã: todos têm uma parcela de responsabilidade nas mudanças necessárias à preservação do planeta. São muitos os temas e as pautas que precisam fazer parte do cotidiano da humanidade - a poluição, a geração de resíduos e a cultura do descarte, para citar alguns. O clima é condição essencial à vida humana, com impactos que vão desde a disponibilidade de água até a produção de alimentos. Não basta, pois, o bem-estar de quem tem dinheiro promovido a partir de uma degradação socioambiental perigosa.

É necessário aprofundar debates e pesquisas, também investir na deliberação política para alcançar legislações efetivas na proteção ambiental. Igualmente importante é cultivar, amplamente, a sensibilidade ecológica como alma da cidadania, alavanca de um modo adequado para viver em sociedade. Diante dessas necessidades, engana-se quem pensa que uma romaria tem pouca força transformadora, compreendendo-a como acontecimento insignificante. A Romaria cumpre uma missão humanitária, cidadã, espiritual, política, ainda que pareça “gota d’água no oceano”. Ela exerce o seu papel quando ajuda políticos e cidadãos a despertarem para a gravidade do que está ocorrendo no planeta. A Romaria pela Ecologia Integral em Brumadinho, com suas dinâmicas, é auxílio na abertura de um novo ciclo que se efetivará quando a civilização compreender a necessidade de adotar um novo estilo de vida no planeta, em harmonia com a Casa Comum. Participe da Romaria pela Ecologia Integral em Brumadinho.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte