Santuário Arquidiocesano

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Artigo de dom walmor

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Torcida de Deus: 50 anos

A 16ª Torcida de Deus celebrada pela Igreja Católica na Arquidiocese de Belo Horizonte, durante a Festa de Corpus Christi, marca um jubileu áureo.  Há 50 anos, desde 1975, cada edição da Torcida de Deus ultrapassa dimensões espetaculares, em beleza e harmonias, para focalizar o testemunho público de fé, dos discípulos e discípulas de Jesus Cristo Eucarístico, na centralidade do Mestre como sacerdote, altar e cordeiro, garantia de salvação e redenção da humanidade. No Mineirão, uma grande torcida, a torcida de Deus, reunida para um grito de louvor e súplica que permitiu ecoar no coração de cada pessoa nova lógica que leva o ser humano a viver a vida como dom de si mesmo, investindo na concórdia e na paz. Um grito de louvor e súplica por um mundo novo, possível de ser alcançado quando se busca a verdade do amor e da fraternidade solidária.

O testemunho público da fé eucarística, com raízes na idade média, firma o desafio corajoso de ir além das sacristias, ou mesmo dos templos, contribuindo para que a vida de todos e a contemporaneidade, com seus desafios, se abram ao Santíssimo Sacramento. As respostas aos desafios da humanidade não podem ser as guerras, a luta insana pelas redes sociais, menos ainda as indiferenças nascidas das segregações e discriminações, com lógicas exploratórias que comprometem o equilíbrio das relações. Essas respostas não virão também de um estilo de vida irracional, predatório e ameaçador da fraternidade. A Torcida de Deus ensina sobre o caminho capaz de levar o mundo a vencer as suas crises, a partir de um alicerce sólido, de uma fonte que não se esgota. Trata-se da coragem profética de adotar uma sabedoria que transforma a vida em dom de si mesmo. E o centro da experiência que leva a essa sabedoria é a Eucaristia da qual nasce e vive a Igreja querida por Jesus Cristo, o único Senhor e Mestre do viver humano.

O Mineirão se tornou um grande templo em praça pública, quando ritos celebrativos, catequeses, experiências místicas e litúrgicas revestiram os corações, fazendo brotar um grito testemunhal público para convidar todas as pessoas a beberem da única fonte inesgotável - o amor eterno de Deus. A Eucaristia Santíssima é a doação que Jesus faz de si mesmo revelando o amor infinito de Deus a cada ser humano, o amor maior, que leva Deus-Filho a dar a vida por todos.  A Torcida de Deus renova a compreensão do fascinante mistério do Senhor que vem ao encontro de homens e mulheres, criados à imagem e semelhança do Criador, fazendo-se companheiro de todos. Cristo marcou a história humana com a sua morte no alto da cruz, pautando como primordial a lógica testemunhada na última ceia, quando Jesus se levanta, cinge-se com uma toalha e, em gesto de humildade suprema, lava os pés dos seus discípulos, orientando-os a também se colocar a serviço de cada semelhante, para semear no mundo o amor que redime.

A torcida de Deus se congregou para levar aos corações o mesmo enlevo que, certamente, tomou conta do coração dos primeiros discípulos de Jesus, fazendo deles fonte de amor na pregação do Evangelho, operários da vida plena. Um enlevo eucarístico, o único com força para transformar vidas pela compreensão da lógica da vida doada. Essa lógica sustenta a cultura do encontro solidário e o sonho de uma sociedade justa, em que todos se reconhecem como irmãos uns dos outros. O compromisso missionário que envolveu os torcedores de Deus é o próprio amor de Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Um amor infinito que fez Deus entregar o seu Filho Único para que todo aquele que Nele crer não pereça, mas tenha vida eterna. Jesus é o verdadeiro pão descido do céu para dar vida ao mundo. Quem come deste pão viverá eternamente, pois passará por uma grande transformação humana e espiritual, qualificando a sua cidadania civil e a sua cidadania do Reino de Deus.

Compreende-se então que a Eucaristia é pão repartido que garante vida ao mundo. O próprio Jesus disse que oferece a sua carne para a vida do mundo, em um profundo sentido de compaixão.   A compaixão de Cristo pela humanidade convoca cada pessoa também a se compadecer diante da dor do semelhante, assumindo o compromisso da caridade dedicada aos irmãos e irmãs que sofrem. A Eucaristia é experiência de profundo encontro com Deus, desdobrado em compromisso com o semelhante, qualificando corações para a promoção da solidariedade fraterna. Aprende-se a ver o outro a partir da grandeza do amor de Deus, vencendo limites dos sentimentos humanos. A celebração da Eucaristia proporciona, assim, a “eucaristização” da própria vida, dedicando-se a ser operário da compaixão de Deus no mundo.

Importante é compreender que em um mundo carente do amor de Deus, os discípulos e discípulas de Jesus têm um mandato do Mestre: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. A vocação dos torcedores de Deus é unir-se a Ele, Cristo Jesus, fazendo-se também um “pão repartido” para a vida do mundo, agente da fraternidade, embaixador da reconciliação neste contexto dilacerado pela discórdia e pelas violências.  A Eucaristia reforça a comunhão entre irmãos, sublinhando a urgência de se buscar a reconciliação, para superar estruturas injustas.  Enraizados no mistério do amor de Deus, professado, celebrado e vivido, os cristãos, torcedores de Deus, se tornam obreiros da justiça, unidos na edificação da paz, profeticamente denunciando o que está em colisão com a dignidade humana. Assim, a Igreja Católica na Arquidiocese de Belo Horizonte, em comunhão com a Igreja no mundo inteiro, publicamente, testemunha e reassume seu compromisso de ser uma Igreja que nasce e vive da Eucaristia.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte